27.8.08

Momentos olímpicos

De acordo com a Wikipedia, o Aurélio, o Houaiss e outros caras, olimpíadas e jogos olímpicos, atualmente bastante usados como sinônimos, podem não ter o mesmo significado. O termo olimpíada representava, na Grécia Antiga, o período de quatro anos compreendido entre duas edições de tais jogos, que por sua vez, têm esse nome por terem surgido na cidade grega de Olímpia. Em suma: após a olimpíada, começam os jogos olímpicos. Outra curiosidade é que o símbolo oficial dos jogos, os conhecidos cinco anéis de cores diferentes, representam, cada um, um continente, o azul sendo a Europa, o amarelo, a Ásia, o preto, a África, o vermelho, a América e o verde, a Oceania.

Um grande momento da história dos jogos olímpicos foi a conquista de quatro medalhas de ouro, no atletismo, pelo atleta negro Jesse Owens, dos Estados Unidos, nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, episódio que foi de encontro aos objetivos do líder nazista Adolf Hitler de comprovar a superioridade da raça ariana durante os jogos.

A ginástica e o atletismo, duas das modalidades mais tradicionais dos jogos olímpicos, foram responsáveis por outros dois momentos marcantes de sua história, opostos em termos de resultados, mas semelhantes no espírito de superação e perseverança. Nas Olimpíadas de Montreal, em 1976, a romena Nádia Comaneci recebeu a primeira nota 10 da ginástica olímpica, com apenas 14 anos de idade e em 1984, em Los Angeles, a suíça Gabriela Andersen-Scheiss, à época com 39 anos, terminou a prova em um dos últimos lugares, quase não se aguentando em pé, cambaleando, desorientada, até cruzar a linha de chegada e ser acudida por médicos, desmaiando em seus braços.

As brigas políticas, que iam de encontro ao espírito olímpico de união entre os povos, foram freqüentes nas várias edições dos jogos, com destaque para o atentado ocorrido em Munique - que resultou na morte de atletas da equipe de Israel - e os jogos realizados durante a Guerra Fria, na década de 80. Em 1984, em Los Angeles, as Olimpíadas foram marcadas pelo boicote da maioria dos países socialistas à competição, em resposta a ato semelhante praticado pelos Estados Unidos e dezenas de outros países aos jogos de Moscou, em 1980.

Os jogos de Barcelona, em 1992, por sua vez, foram os primeiros ocorridos após importantes fatos históricos que se refletiram na relação dos países participantes. Três anos após a queda do muro de Berlim e dois após o fim do regime de apartheid, a Alemanha, como nação unificada, e a África do Sul voltaram a participar de Olimpíadas. Já a União Soviética e a Iugoslávia viviam um processo de desmembramento em várias nações, com algumas delas, como Lituânia, Letônia, Estônia, Croácia e Eslovênia, participando separadamente da competição. As repúblicas soviéticas remanescentes participaram com o nome de Equipe Unificada.

A canção tema das Olimpíadas de Barcelona, “Amigos para Siempre”, refletiu bem o tal espírito olímpico, louvando a amizade e a união entre os povos e as nações e sensibilizou a todos. Foi também nessa época que uma nova “modalidade” criada pelos voluntários gandulas mereceu destaque: a limpeza de quadra sincronizada, que roubava a cena nos intervalos dos jogos de vôlei e basquete - sendo bastante aplaudida - e que até hoje dão um toque de graça a esses jogos.

O Brasil, depois de uma maratona de deslizes e sobressaltos com vara, até que não se saiu tão mal em Pequim. Mas quem merece parabéns mesmo é a Jamaica, país que melhor reverteu (e inverteu) a proporcionalidade direta entre a posição no quadro de medalhas e o quadro social, com sua décima terceira colocação e suas onze medalhas, sendo seis de ouro, três delas de Usain Bolt, no atletismo. Tentando escrever este texto rapidamente, talvez inspirado nos tempos olímpicos, lembrei da velocidade das braçadas de Michael Phelps, atleta estadunidense que ganhou oito provas de natação nesses jogos. Nada mau pra quem nada bem. A potência máxima da natação é levada ao Cubo D'Água: pura matemática. Mas o que ele faz pra ganhar tantas medalhas de ouro? Nada de mais, apenas nada demais! Beijing pra todos.

14.8.08

Avós do coração

Tristeza não tem fim. Felicidade, sim. Quando era pequeno, chorava ao escutar esse trecho da música de Tom e Vinícius. Ao levar a letra ao pé da letra, sentia-me incomodado em estar iniciando uma trajetória na qual a tristeza seria constante e a felicidade, apenas pequenos momentos. Enxergando a vida através das lentes suaves dos olhos de uma criança, era feliz e resolvi, então, esperar vir o amadurecimento, deixar de ser jovem para então poder tirar conclusões mais precisas. Aos pouquinhos, sem pressa, entre felicidades e tristezas, ganhos e perdas, chegadas e partidas, encontros e despedidas. Só não sabia ao certo quando deixaria de ser jovem...

Descobri que isso acontece no exato momento em que perdemos nossos avós e constatamos que por ninguém mais seremos tratados como crianças. Foi assim que, numa fria manhã de agosto, repentinamente, amanheci mais velho. Sem a grande mãe, como chamam os ingleses. Sem a estrela-guia com quem descobri a importância de se escutar avós (e a voz) do coração, a quem devo a crença de que o amor é possível, de quem sempre admirei a simpatia e herdei o gosto por rir de qualquer coisa, a quem sempre busquei seguir na sensibilidade, simplicidade e delicadeza sem, contudo, chegar a seus pés. Linda com l maiúsculo, minha avó é a felicidade pela qual volto a chorar, depois de adulto, ao perceber que estava certo ao chorar, quando criança.