6.6.06

Música inspirada



Música é perfume. Esta é uma frase dita por Maria Bethânia, num trecho do documentário de mesmo nome, dirigido pelo francês Georges Gachot. O documentário é uma verdadeira perfumaria, com fragrâncias suaves e tradicionais, como Gente humilde, Bom dia tristeza, Luar do sertão, Olhos nos olhos e Samba da benção e outras mais fortes e encorpadas, como Purificar o Subaé e Ya Ya Mussemba.

Entre um e outro aroma, depoimentos de pessoas bem próximas a ela, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Nana Caymmi, seu irmão Caetano Veloso e sua mãe, dona Canô. Em uma parte do filme, Caetano explica que Bethânia, no início de sua carreira, não se identificava com o estilo comedido da bossa nova, embora a admirasse, pois tal estilo opunha-se a sua voz forte e a toda a dramaticidade que ela apresentava, e que traz consigo até hoje, o que a fez, à época, buscar referências musicais nos compositores mais antigos e com maior carga dramática, como Lupicínio Rodrigues e outros.

Interessante também o comentário da cantora sobre sua voz, tratada por ela como uma entidade à parte, independente e com vida própria: "A voz mora em mim, mas não sinto como se fosse minha. É uma expressão de Deus". Por isso, quando Gilberto Gil define a voz de Bethânia como "a fricção entre o tudo e o nada" ou "entre o corpo e a alma", embora essa frase venha provocando risos nas exibições do documentário, qual Terezinha (de Chico) ao terceiro homem, eu entendo o que ele quer: mostrar, justamente, esses dois lados de sua voz, forte e racional (corpo), mas também sensível e emocional (alma), concreta e abstrata, tudo e nada (Tá bom, podem me chamar de Gil, ficarei bastante orgulhoso).

Na parte musical, o filme é metade palco, metade estúdio. Mostra trechos do espetáculo Brasileirinho (eu não poderia chamar de ‘show’ algo tão brasileiro) no Rio de Janeiro e na Bahia, ensaios, bastidores, bem como todo o envolvimento da cantora no processo de gravação de um disco, como em "Que falta você me faz", em que se pode observar sua sensibilidade, preocupação com detalhes e participação na escolha dos arranjos musicais, junto com Jaime Alem, seu diretor musical e arranjador, com quem ela demonstra ter bastante entrosamento.

No estúdio, ela vibra, dá palpites e é exigente. No palco, com seus pés descalços e cabelos esvoaçantes, ela entrega-se, transforma-se e emociona-se. Somente as emoções, como num drama, tão bem definido por Caetano e cantado por ela: "E ao fim de cada ato, limpo num pano de prato as mãos sujas de sangue das canções". Tudo isto nos ajuda a entender porque seus shows e discos resultam tão esmerados e bem feitos. Por sua vez, este compromisso com a perfeição sem deixar de lado a emoção, pelo contrário, pondo-a sempre à frente e em primeiro lugar, talvez explique sua enorme empatia com o público.

Nas cenas externas, bonitas imagens do Rio de Janeiro, de Salvador e de sua terra natal, Santo Amaro da Purificação, com seus habitantes e sua vida simples, que lembram a Bethânia, que completa 60 anos de vida neste mês de junho, a importância de suas origens, de sua infância e um episódio que ela considera ter sido seu primeiro exercício de concentração, ainda na infância, com o mano Caetano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Paulinho,
veja bem meu bem... o que vou dizer... etc e tal.. sugestão para o nome do seu Blog: Blog do Paulinho e como subtítulo o que vc. escolher!